sábado, 13 de agosto de 2011

Encadernação estilo oriental


  No centro 3 livros chineses com encadernação tradicional, 
ao fundo selo esculpido em pedra que comprei na 
 Chinatown de Chicago, à direita pincel de sumi-ê 
de porcelana e xale chinês compondo o fundo.
                                                                          
            Encadernação concertina, Leporello, acordeom, sanfona, etc.

    Derivada inicialmente dos livros em formato de rolo, em sua forma mais simples consistia em se dobrar toda a folha de um rolo como se fosse o fole de uma sanfona.
 
    Então, eram acrescentadas duas capas, coladas à primeira e à última páginas.
  No link a seguir, a Universidade de Kent disponibiliza um vídeo ensinando a fazer essa encadernação.
                                                   https://vimeo.com/237566604 

    Outros exemplos são os três livros chineses que adquiri em Nova Iorque alguns anos atrás. O primeiro deles, de 18,5x12,5cm, tem 3 metros de comprimento dobrados em 23 folhas duplas de papel feito à mão de cor marfim e revestimento em seda verde com uma etiqueta para o título de papel com flocos de ouro.

  
    O livro seguinte, de 20x20cm, todo desdobrado tem 5 metros de comprimento. Dobrado tem 50 folhas duplas de cor marfim e o revestimento é em tecido adamascado perolado. Os dois fechos são de osso. As duas primeiras folhas do começo e do fim - as guardas - têm folhas de ouro mescladas na fibra.

                                                                 
    Mas um dos formatos que se seguiu a esse tornando-se  muito popular até hoje é aquele composto de folhas perfuradas e costuradas através desses furos juntamente com duas capas. Dentre essas encadernações a mais básica é a de 4 furos - yotsume toji - em que folhas dobradas no meio são costuradas do lado oposto às dobras. O resultado é que cada folha é dupla e aberta em cima e embaixo. Nas fotos a seguir vê-se bem esse detalhe:


    O papel é feito à mão e todas as folhas têm ou pedacinhos de folhas de ouro ou de prata misturados à fibra. 
    O fato de a tinta usada para escrever - sumi - penetrar nesse tipo de papel parece explicar a necessidade de as folhas serem duplas pois nesse caso o outro lado da folha fica inutilizado.
    A partir dessa estrutura básica de encadernação, dependendo do número de furos e do tipo de costura, se desenvolveram vários estilos diferentes tais como o "casco de tartaruga" - kikko toji - em que a costura se assemelha à forma do casco de uma tartaruga:

                                                                 
ou ainda o "folha de cânhamo" - asa-no-ha toji - que tem esse nome por assemelhar-se à folha da planta cannabis:

                                                                                                                                                   
     Ao cair no gosto da cultura ocidental, a encadernação japonesa popularizou-se entre nós e tem sido adaptada aos materiais disponíveis no nosso meio.
    Há um vídeo em 3 partes no Youtube que não requer tradução por não ter áudio e mostra o passo a passo de um dos estilos de costura japonesa:

http://youtu.be/k9WL3C9rItg (Parte 1)        
http://youtu.be/poDYEZDg6M4 (Parte 2)
http://youtu.be/W5_ESTZNwMQ  (Parte 3)

    O estilo de costura apresentado no vídeo é o Kangxi, cujo nome é uma homenagem a um dos imperadores chineses da dinastia Qing (c.1644-1912). É basicamente o mesmo tipo de encadernação de 4 furos porém acrescida de 2 furos extras nos cantos superior e inferior entre a linha de costura e a lombada:


    Esse reforço adicional torna esse estilo especialmente adequado a livros de maior porte que os convencionais. É claro que no vídeo o revestimento e o  formato das capas foram "ocidentalizados" e o procedimento é meio rudimentar, mas é válido por divulgar e tornar acessível a prática dessa arte.
    O encadernador usou um vazador (furador) manual para fazer os furos.
    Existe no mercado um furador/vazador japonês - japanese screw punch - , que funciona por pressão manual e é especialmente indicado para essa finalidade:


    O original - Made in Japan -, pode ser encontrado em lojas virtuais especializadas, no exterior,  como a John Neal Books, e tem vários tamanhos de vazadores adaptáveis à ponta, vendidos separadamente. É bem mais caro que o “genérico”, Made in China, que já está disponível no Brasil - na internet, no Mercado Livre, etc. e costuma incluir seis pontas/vazadores de tamanhos diferentes. Deve ser usado para furar uma folha por vez e cada uma das capas em separado.
     No vídeo a seguir, da Universidade de Kent, a professora ensina um modelo de encadernação japonesa, usando esse furador japonês:

                                              https://vimeo.com/237567526

    Ainda podem ser utilizados aqueles vazadores para couro, cintos, etc., em que se bate com um martelo para fazer o furo, também em poucas folhas por vez e nas capas, em separado.

                                                                         
    E é possível também, utilizar as mini-retíficas do tipo Dremmel, em velocidade média para não queimar o papel, para furar um maior número de folhas ao mesmo tempo. Prendo (com uma cinta de papel fixada com fita adesiva) as capas junto com o miolo (já enquadrados e com os furos marcados no lugar certo), numa prensa especial feita pelo Sr. Hélio (aqui)  para esse propósito:

                                                                                  
e já furo tudo de uma vez.
    Mas, segundo Beth Csuraji, minha querida professora na ABER, o ideal é usar este tipo de furadeira manual (1/4"), com a qual também é possível furar capas e miolo, todos juntos, de uma só vez:
    Com ela é possível  tanto escolher, por meio da broca utilizada, o tamanho do furo que faremos, quanto controlar a furação para não danificar o livro. Com as furadeiras elétricas, devido à rapidez de rotação, não se tem tanto controle do processo. Estas furadeiras custavam em média R$ 16,00, por ocasião desta postagem, e podiam ser encontradas em lojas de ferramentas como as da Rua Florêncio de Abreu, em São Paulo, ou na internet. E existia mais de uma marca disponível:


   Outro modelo, o da foto abaixo, embora muito bonito e moderno não funcionou ao tentar furar tudo junto - capas e miolo. Ele não tem robustez suficiente para isso. Aconteceu que a broca ficou presa no bloco durante a furação e quando puxei, o aparelho saiu na minha mão, mas a broca continuou lá,  tendo que ser tirada à força  (e muita!) com um alicate. Quase arruinei o trabalho. Acho que ele serve apenas para furar poucas folhas por vez e cada uma das capas em separado.

                                                               
    Eis alguns de meus trabalhos com costura japonesa:


    Um dos melhores livros sobre essa técnica é:


    "Japanese Bookbinding - Instructions from a Master Craftsman" de Kojiro Ikegami.

    Créditos: Foto  2  - Musician's Friend
                       Fotos 17 e 23 - Talas
                 Foto 21 - Importadora Eda 
                       Foto 22 - bazarfacil.com                              

13 comentários:

  1. Ô menina danada voce!!! Quanta coisa linda voce oferece para o nosso aprendizado! Adorei esta encadernação chinesa, seu trabalho está perfeito, as always! Meu preferido foi este último caderno, em couro e tecido floral. Mas tudo está divino, com extremo bom gosto e fino acabamento. Beijos
    Elô

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  2. Sorry, quis dizer encadernação japonesa e não chinesa....mas como voce sabe, sou distraída !
    Elô

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  3. Oi Vera....que trabalho mais delicado esse!!!!! Deve ser muito prazeroso, como todo artesanato!!!
    Parabens!!!!!!
    Desejo muito sucesso!!!!!
    Beth Reale

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  4. Oi onde posso aprender e fazer este curso?
    aquino_x@hotmail.com

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  5. Olá, Aquino! Muito obrigada pela visita! Existem 3 escolas: a ABER - Associação Brasileira de Encadernação e Restauro - cujo link está ao lado direito desta postagem (basta clicar nele) ; a professora Elisa Kerr cujo blog é art/educando e está listado ao lado direito desta postagem (é só clicar nele) e o projeto "Arte de Encadernar" da Universidade São Judas Tadeu, cujo telefone é 2799-1922. Esses são os lugares em que os cursos de encadernação de todos os tipos são os melhores e mais conceituados. Existe também o SENAI - Theobaldo De Nigris - fone: 2797-6333, cujos cursos são excelentes mas eu não sei se eles ensinam encadernação japonesa. Espero ter ajudado. Obrigada mais uma vez!

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  6. Olá Vera, obrigada por compartilhar todas essas informações.

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  7. Vera, parabéns pelo seu blog.Encontrei por um acaso e estou deslumbrada.Também fiz cursos na ABER, há mto tempo qdo era no Largo Ana Rosa. Pesquisando em seu site vi a prensa especial feita pelo Sr. Hélio, será que ainda faz???? Suas dicas são sensacionais para quem curte este tipo de tarbalho seu blog é UM PRATO CHEIO

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  8. Oi, Leny! Muito obrigada pela sua visita, incentivo e comentário tão carinhoso. Isso faz valer a pena continuar trabalhando o blog! Pra saber se o Sr. Hélio ainda faz essa prensinha, você teria que ligar para ele no nº (11) 2294-7962. Caso ele não faça mais você poderia tentar com algum marceneiro ou amigo habilidoso ou fazer você mesma, porque ela é bem simples, como pode ver na foto. Caso o Sr. Hélio não as faça mais, me diga que eu te passo as medidas dela com fotos mais detalhadas. Mas o preço do Sr. Hélio compensa! Um grande abraço e até breve!

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  9. Olá Vera, gostaria de saber as marcas dos perfuradores manuais e se você souber onde que posso encontrá-los pela internet. Belíssimo trabalho o seu. Obrigado, aguardo resposta.

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    1. Oi, Rodrigo!
      Muito obrigada pelo interesse e incentivo! O primeiro furador, japonês, você encontra na http://talasonline.com procurando por japanese push drill.
      Os da 2ª foto são vazadores que vc encontra em lojas de ferragens e ferramentas, dessas que vendem pregos, martelos, etc.
      Mas o ideal para a encadernação japonesa, como eu falo no texto, são as furadeiras manuais como as da foto com cabos de madeira, manivela e detalhes pintados em vermelho. Elas podem não ter marca nenhuma mas numa das fotos a marca é WESTERN. Coloque no Google furadeira manual que aparecem algumas lojas ou então vá à Rua Florêncio de Abreu em São Paulo que vc encontra.
      Espero ter ajudado. Um abraço!

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  10. Oi, Vera. Teu blog era tudo que eu estava procurando! Estou super feliz por tê-lo encontrado. Gostaria muito de saber que tipo de fio, cordão é melhor para utilizar nesse tipo de costura japonesa. Estou fazendo meu TCC (sou designer e estou fazendo um projeto que utiliza a arte sumi-e e um estilo mais contemporâneo de diagramação ocidental_ e pretendo coturá-lo com essa técnica. Aqui tirei minhas dúvidas sobre os perfuradores e muitas outras coisas, mas ficou a dúvida de que tipo de fio, cordão utilizar, o melhor material e se haveria alguma marca que você prefira pra desenvolver esse tipo de trabalho.
    Obrigada pela atenção e aguardo resposta 8D

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    1. Oi, Karla! Muito obrigada pelo interesse e o incentivo. Se o seu projeto envolve a arte de uma cultura tão tradicional como a japonesa, recomendaria que você utilizasse uma linha, cordão ou fio natural de algodão,linho ou seda e, de preferência, em sua tonalidade natural, do tipo crú. Essas linhas costumam ser bem resistentes e se forem muito finas você pode usá-las duplas ou triplas. Você deve encontrá-las nos armarinhos da Rua 25 de Março e redondezas. As de seda da Gutermann você encontra facilmente, de algodão URSO da Coats Corrente também, já as de linho não conheço as marcas porque uso umas irlandesas que importo. Todo cuidado na hora de escolher o revestimento. Há uma loja na Vila Madalena especializada em papéis japoneses onde você encontrará o que precisa. É a WORLD PAPER, Rua Belmiro Braga 49, Fone: 3815-5622.
      Espero ter ajudado. Muito sucesso no seu TCC e um grande abraço!

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  11. Seu modo de passar informação é perfeito... minuciosa/clara só acrescenta ao leitor... feliz encontrar pessoa especial no fazer e criar belezas... Iniciante ENCADERNAÇÃO após mergulho ORIGAMI estarei sorvendo ss/ensinamentos... muy grata....

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